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Saudades do Alentejo
Sou filho da terra quente,
das searas, do montado …
Trago das canções dolentes,
o passo cadenciado.
Saudoso das leiras trigo,
vivendo em terra emprestada,
nas longas noites sem sono,
perdido neste abandono,
vou desfiando comigo,
contos perdidos na estrada …
Tenho na pele marcados
os traços de mil suões,
e os olhos tristes, magoados,
que eu herdei dos ganhões.
Guardo raízes profundas
dum campo velho, cansado,
onde mesmo em tempo agreste,
nascia uma flor silvestre,
naquelas terras fecundas,
de Alentejo ignorado.
Eu nasci p’ra lá do Tejo,
guardo da terra a lembrança …
Eu pertenço ao Alentejo,
que me conheceu criança!
Voltarei um destes dias,
com um bando de pardais …
hei-de voar pelos montes,
beber as águas das fontes,
cantar velhas melodias,
e embebedar-me em trigais.
Orlando Fernandes in Fronteiras do Sonho
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